
Durante a infância e adolescência, são frequentes as vivências onde nos sentimos “menos que os demais”, ou que percebemos que nos fizeram sentir “menos que os demais”.
A perceção de inferioridade em relação ao outro, coloca-nos numa posição de “não render” o suficiente, de não conseguir os intentos desejados, de impotência na obtenção de determinados resultados.
Refiro-me a uma das feridas emocionais que mais prevalência tem atualmente – o CONFLITO DE DESVALORIZAÇÃO.
Cada conflito, ativa uma determinada área do cérebro, que modula o estado de determinados órgãos e tecidos, ativando comportamentos e sintomas específicos, como solução.
Desta forma, o conflito de desvalorização, que vulgarmente denominamos “autoestima”, ativa a substância branca do cérebro, que pertence à 3ª etapa embriológica, do mesoderma novo.
Filogeneticamente esta etapa surgiu para permitir ao Homem o seu deslocamento, a ação e o movimento. Os tecidos desenvolvidos nesta fase e que permitem a atividade, pertencem ao sistema músculo-esquelético. Também dela fazem parte, os vasos e sangue que garantem a nutrição desse sistema, bem como o tecido conectivo que o sustém e permite criar reservas de energia, como é o caso da gordura corporal.
A biologia não se engana, se precisamos render, necessitamos de órgãos e tecidos evoluídos e competentes para levar a cabo a ação.
Todo o movimento externo inicia-se com um movimento interno vital, garantido pela circulação interna do sangue, nos vasos sanguíneos.
Todos os órgãos e tecidos derivados do mesoderma novo, podem ser afetados em casos de conflitos de desvalorização.
Quanto mais superficial a estrutura, mais superficial a desvalorização, e quanto mais profunda a estrutura afetada, mais profunda é a desvalorização.
Os órgãos e tecidos da 3ª etapa, localizados na substância branca, obedecem a uma lateralidade cruzada, os órgãos do lado direito do corpo localizam-se no hemisfério esquerdo, e os órgãos do lado esquerdo do corpo, localizam-se no hemisfério direito, com a exceção do miocárdio e do parênquima renal, que permanecem do mesmo lado cerebral.
Estes órgãos e tecidos são:
- Ossos e tecidos fibrosos, músculos, ligamentos, tendões, cartilagem, meniscos, discos.
- Sangue com os seus elementos formes: glóbulos vermelhos, brancos, plaquetas.
- Vasos sanguíneos e linfáticos e gânglios linfáticos
- A tríade da criação: parênquima renal, glândula cortico-suprarenal, ovários e testículos
- Gordura
- Dentes
- Baço
Os primeiros anos da nossa vida têm uma importância enorme na formação do nosso pilar de valor.
As frases desencorajadoras dos nossos pais, do tipo “assim não vais longe”, “só sabes fazer asneiras”, “és um inútil”, “não serves para nada”, as comparações com os irmãos mais velhos, com outros colegas, deixam marcas profundas na nossa estima.
As mensagens implícitas e tão profundamente dolorosas como, “desde que nasceste a minha vida é muito difícil”, “eu não tinha o desejo de engravidar”, “o casamento acabou quando tu nasceste”, são os percursores do NÃO MERECIMENTO.
Os pais desde o seu cansaço, ignorância e com o modelo que experienciaram na sua própria infância, fazem-nos acreditar que tudo o que dizem é verdade absoluta!
Quem, na nossa infância, representa o modelo de verdade, de certeza e de segurança? Os nossos pais.
(Quero realçar que os nossos pais foram o melhor, fizeram o melhor e que nada poderia ter sido diferente! De outra forma não se trataria da nossa história, certo?)
Somos conduzidos pela vida com a convicção que nada somos, que não conseguimos e muito menos merecemos.
Este dogma afasta-nos da nossa verdadeira identidade, da nossa essência.
Quantos de nós continua a pensar assim?
Quantos de nós ainda se compara com os demais e reprime os sonhos que alberga?
Perpetuar esta mensagem interior, gera inúmeros conflitos de desvalorização, que vamos somando ao longo da nossa biografia, culminando em sintomas, nos órgãos e tecidos da 3ª etapa embriológica.
Cada sintoma reflete o modo como vivemos cada evento da vida.
O medo de não conseguir, de ser incapaz, de não ter o rendimento suposto, é o fator mais relevante para que os sintomas músculo-esqueléticos surjam.
O conhecimento das leis biológicas associado à fisiologia e neuroanatomia dos órgãos e tecidos do mesoderma novo, permite-nos um mergulho no âmago das verdadeiras causas dos sintomas.
Sob o ponto de vista comportamental, que mecanismos surgem para compensar um padrão de desvalorização pessoal?
- A vitimização: a culpabilização da família (e de tudo que está fora!) por tudo o que passou, por não terem tido as condições necessárias, por não terem feito mais. Têm tendência a queixar-se de tudo, do excesso de trabalho, de que não param o dia todo, mas nem ponderam mudar o seu comportamento.
- O perfecionismo – como forma de compensar as falhas, as incertezas, as dúvidas. É uma falsa garantia de sucesso, que disfarça uma insegurança profunda. O excesso de organização é uma das suas características.
- O controle excessivo – para garantir que nada falhe, para manter a vigilância contínua, em consequência de uma preocupação excessiva. Pouca flexibilidade para mudanças e quando algo surge sem contar reagem de forma agressiva.
Todo o excesso é um desvio da normalidade. Surge sempre a partir de um momento, em que surgiu algo com esse tema, que foi perigoso, angustiante, humilhante.
Qualquer que seja o código de conduta que se adota, devemos ter a compreensão de que se trata de um mecanismo adaptativo.
Antes de julgar quem nos rodeia (ou a nós mesmos!), questionemos primeiro que vivencias traumáticas deixaram marcas profundas e que conformaram o perfil dessa pessoa (ou o nosso!).
Identificar esse momento do passado, entender que já não faz sentido permanecer lá em sofrimento, mas sim, modular o sistema nervoso, através de técnicas simples, que permitem
resgatar o valor pessoal inato, e potenciar a pessoa para viver a sua vida, a partir da tranquilidade, leveza e com muito Amor Próprio! É o principal!
Sónia Cerqueira